10 dicas para planejar as finanças de uma volta ao mundo
Se planejar uma viagem de um mês ao exterior já pode exigir um bom tempo de pesquisa e um alto investimento, uma viagem de três anos e meio ao redor do mundo, com um orçamento de 126 mil dólares, com certeza é um luxo para poucos.
Mas, é exatamente esse o sonho que o casal Leonardo Spencer e Rachel Paganotto conseguiu tornar real em menos de um ano. Em agosto de 2013, nós demos uma entrevista para o site Exame, a qual você pode acompanhar abaixo.
Depois de retornar de um período de férias e enfrentar o típico sentimento de que não é fácil voltar, o casal decidiu que era hora de mudar de vida, antes que os filhos, a rotina e as promoções no trabalho não dessem mais espaço para isso. Foi quando surgiu a ideia de dar a volta ao mundo de carro. Com a experiência de anos de trabalho no mercado financeiro, mais especificamente dentro do Citibank, eles fizeram um planejamento digno de deixar qualquer consultor financeiro e viajante deslumbrado.
A ideia deu tão certo que hoje o casal tem um blog, o Viajo Logo Existo, e uma planilha de gastos que inclui até o número de barras de cereal comidas e as propinas pagas durante a viagem, que está no seu 101º dia (serão 1.260 ao todo).
*Acabou sendo 1.324 dias de viagem. Esta matéria foi originalmente publicada na revista Exame em 2013.
1) Defina o percurso e calcule o gasto com combustível
Segundo Spencer, o primeiro passo do planejamento foi a definição das cidades que eles passariam e o cálculo da distância percorrida entre elas. “Nós definimos que passaríamos por 68 países em primeiro lugar, depois abrimos o Google Maps e calculamos exatamente a distância entre cada uma das cidades e colocamos em uma planilha do Excel quantos quilômetros percorreríamos no total”, diz.
O casal calculou que a viagem toda totalizaria 180 mil quilômetros e estimou os gastos com combustível. Para isso, eles verificaram a autonomia do carro (litros de diesel consumidos por quilômetro percorrido), um Land Rover Defender, e consultaram o site MyTravelCost, que mostra o custo médio com combustível em diversos destinos turísticos de todo o mundo.
Planeje, planeje, planeje – essa será a melhor forma de economizar
2) Estime o custo médio de um dia na cidade de destino
O próximo passo então foi pesquisar qual seria a média de gastos diária em cada local. O casal recomenda a navegação pelo site da Lonely Planet, que mostra o gasto médio do viajante por dia em diversas cidades de acordo com o tipo da viagem, se é mais luxuosa ou mais econômica.
Eles também pesquisaram os custos com conhecidos e unindo todas as referências chegaram a uma média de gastos diária da viagem. “Nós estudamos os gastos com estadia, alimentação e lazer em cada lugar e chegamos a uma média de 100 dólares por dia”, conta Spencer.
A Islândia foi um dos países mais caros que já visitamos!
3) Adapte o orçamento diário para arcar com as despesas mais relevantes
Além dos custos diários, o casal também estimou quais seriam os gastos mais pesados, como com passagens aéreas entre os locais que não será possível chegar por terra e as taxas para transportar o carro nos locais em que eles cruzarão o mar.
Procure sempre os mercados mais baratos para economizar com restaurantes.
4) Invista o valor poupado para a viagem em aplicações seguras
Como a viagem normalmente é planejada no curto e no médio prazo, investimentos com maior risco, como ações, não são indicados. Essas aplicações podem sofrer prejuízos e o período de investimento não é longo o suficiente para que haja uma recuperação, por isso, se o investidor perder dinheiro, a viagem pode ser comprometida.
O casal investiu em Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) e em NTN-Bs, título do Tesouro Nacional atrelado à inflação, aplicações de renda fixa, que possuem sua remuneração definida no momento do investimento.
Invista, mas não corra o risco de perder dinheiro.
5) Busque alguma fonte de renda fixa durante a viagem
O casal já tinha toda a quantia necessária para financiar a viagem antes que ela se iniciasse e, obviamente, essa é uma recomendação que eles fazem para quem deseja iniciar um projeto como este. Mas, conseguir uma renda extra durante a viagem pode deixar tudo muito melhor, uma vez que essa renda pode servir para arcar com gastos imprevistos, como um roubo, ou para deixar uma folga maior no orçamento.
Além do rendimento dos investimentos, o casal conseguiu uma renda fixa alugando o apartamento em que morava, ótima estratégia também para eliminar as despesas com condomínio e IPTU.
Outra tática usada para incrementar o orçamento foi o blog, que já conta com o apoio de algumas empresas. “Hoje contamos com o apoio da loja Seal Brazil, que me apoia e fornece todas as roupas que eu uso na viagem. E temos o apoio da Onzebox, empresa de acessórios para a Land Rover, que nos forneceu algumas partes do carro em troca da publicidade. Mas nós estamos buscando mais parceiros que possam nos apoiar financeiramente, em troca da divulgação da marca”, conta o Leonardo.
6) Compre dólares com antecedência e aos poucos
Para não sofrer com as variações cambiais. Que podem encarecer muito a viagem, a orientação é comprar uma determinada quantia de dólares a cada mês para formar uma cotação média da moeda. Sem correr o risco de comprá-la na alta. “Nós dolarizamos parte do orçamento abrindo uma conta fora do Brasil na qual depositamos todo o orçamento do primeiro ano da viagem. Nós compramos a moeda em meses que ela estava cotada a 2 reais e com isso protegemos o nosso primeiro ano inteiro. Já que agora o dólar está próximo de 2,30 reais”, conta Leonardo.
O casal tem contas no HSBC e no Citibank. Segundo eles, um banco com forte presença ao redor do mundo facilita a abertura da conta por aqui. Além disso, eles explicam que para abrir uma conta lá fora pode ser exigido um depósito mínimo. Que no caso da conta do HSBC, por exemplo, foi de cerca de 20 mil dólares.
Para manter a receita dolarizada, eles também recomendam o uso de cartões pré-pago de viagem. Que são carregados com a moeda estrangeira e são usados como os cartões de crédito. Mas com a vantagem de não ter a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de 6,38%, que incide sobre os pagamentos feitos no exterior.
Outra opção ainda seria o investimento em um fundo cambial. Tipo de fundo que aplica recursos em títulos emitidos em moeda estrangeira por bancos e empresas e acompanha o comportamento da moeda. Mas segundo o casal. As taxas de administração do fundo podem ser caras e não compensar o investimento.
Não esqueça de improvisar, isso será necessário.
7) Contrate seguros
A contratação de um seguro de saúde é crucial. Já que os gastos médicos podem ser estratosféricos e a saúde vem em primeiro lugar. “Um amigo meu teve apendicite nos Estados Unidos e ficou uma semana no hospital. A conta deu 30 mil dólares, mas o seguro cobriu. Em uma situação dessas, sem seguro, a pessoa corre o risco de precisar vender o carro e comprometer os planos da viagem”, afirma Spencer.
O casal contratou o seguro de saúde da empresa dinamarquesa World Nomads. Segundo eles, é um dos produtos com melhor custo-benefício para quem viaja. O custo foi de 600 dólares por ano, por pessoa.
Eles também recomendam fazer um seguro para o carro. Como em uma viagem ao redor do mundo o carro é usado em diferentes países. Esse seguro é um pouco diferente do convencional. Ele não cobre colisões e roubos. Apenas danos a terceiros. Em países do Mercosul, existe um seguro para carros obrigatório. Chamado Carta Verde. Ele pode ser contratado na Porto Seguro e custa 50 reais por mês.
E para viajantes que, assim como eles, carregam equipamentos caros, como máquinas fotográficas e câmeras, eles também sugerem a contratação de um seguro especificamente voltado a isso. Eles contrataram o seguro da RSA, por meio da corretora Liame. Que custa 9% do valor do prêmio contratado e tem uma cobertura bem completa, que inclui mau uso.
8) Adapte o orçamento às circunstâncias
Por se tratar de uma viagem muito longa. Pode ser extremamente difícil seguir à risca o orçamento. Afinal, imprevistos acontecem. O casal conta, por exemplo, que na passagem pelo Chile eles foram roubados. Para contornar esse tipo de situação sem precisar mudar o roteiro da viagem. Eles adaptaram o orçamento à nova situação e reduziram durante algum tempo os gastos a 70 dólares diários.
9) Anote todos os gastos, mesmo os pequenos
Nem mesmo as barras de cereal e as propinas (segundo o casal, na América do Sul há muita corrupção nas estradas e policiais “forjam” problemas para obter uns trocados) pagas deixam de ser anotados na planilha de gastos diários do casal.
Pode soar como exagero, mas a atenção aos pequenos gastos é uma velha dica dos consultores financeiros. Quando os gastos pequenos são controlados. Você sabe exatamente para onde o dinheiro vai. Não confunda isso com a “apologia à economia do cafezinho”. O controle minucioso do orçamento é apenas uma forma de priorizar os gastos que fazem mais sentido.
“Nós anotamos até as gorjetas, mas de forma alguma isso é uma coisa chata. Nós estamos acostumados a fazer isso no trabalho e é essa disciplina que garante uma viagem tranquila e que vai nos levar até a Austrália (destino final da viagem)”, comenta Leonardo.
Amsterdam, Holanda.
10) Pesquise informações sobre a cultura dos locais visitados e as opções de lazer
Além do planejamento financeiro da viagem, no blog do casal, também são encontradas dicas sobre outros tipos de pesquisa que o viajante deve fazer para planejar uma jornada ao redor do mundo.
Entre outros tópicos, eles falam sobre a importância de verificar a exigência de vistos e vacina em cada destino e outras informações sobre os locais visitados, como a moeda usada, a língua, a população, o código telefônico, etc.
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